domingo, 5 de junho de 2011

Crónica: A Evolução do Vestuário... na Idade Média...

Dando continuidade à história da evolução do vestuário ao longo dos séculos, com a quinta crónica. Cujo autor é o Dr. Henrique Monteiro, professor e escritor.
Augusta.  


 A mentalidade medieval evoluiu claramente e o conceito de beleza legou à posteridade o nascimento do que, nos nossos dias, se designa por moda.
A primeira característica marcante é a diferenciação das roupas masculinas e femininas. O vestuário passa a ter um caráter ornamental e estético, ao invés da velha preocupação utilitária.
  

A Idade Média, divisão esquemática da História da Europa, abrange um período de cerca de mil anos, que se inicia com a queda do Império Romano do Ocidente (476), terminando no século XV com a queda do Império Romano do Oriente (1453).
Este longo período foi marcado pela implantação do Cristianismo, pela partilha do mundo ocidental pelos povos bárbaros, criando na Europa boa parte da sua divisão geopolítica actual, pelo início das grandes navegações, pelo alargar do conhecimento de novos mundos e povos.
Herdeiro da cultura e costumes romanos, o Império Bizantino não deixou de influenciar com os seus estilos a moda a Europa Ocidental. As bizantinas da classe alta vestiam túnicas feitas de seda e fiapos de ouro e decoradas com pérolas e pedras preciosas. Mulheres de classes mais baixas vestiam túnicas simples. Os imperadores e damas da corte usavam também um tipo de manto sobre suas túnicas.
Deste modo, as usuais roupas simples de algodão, peles e couro passaram a ser substituídas por roupas cada vez mais complicadas e complexas. As roupas das mulheres das classes dominantes passaram a ser feitas de seda, ganharam muitos enfeites e acessórios, como o uso de peles valiosas, botões e cintos ornamentados com pedrarias. A maioria das mulheres das outras classes vestia roupas de lã e linho.
As roupas medievais eram compostas por várias peças sobrepostas e de diferentes materiais, de acordo com a finalidade que possuíam.
Como roupa interior, as mulheres usavam faixas de linho, não tingidas, sobre os seios. Sobre estas vestes, usavam um camisão, ou chemise, que era de linho ou seda, não tingido (cru).
Uma peça do vestuário, associada ao período medieval é o espartilho, também conhecido como corpete, corset, ou corselet. Representada tipicamente como parte do traje da taberneira medieval, o seu uso foi relatado já no século XII, como roupa interior feminina. O seu uso externo está associado à cortesã do século XV e, a partir do século XVI, pelas senhoras da nobreza.
A peça de vestuário propriamente dita foi a túnica (tunic) de manga comprida e justa, e que podia ultrapassar os pés, arrastando-se no chão (cotte). Os tecidos variavam entre o linho, a lã, os mais comuns, passando pelas sedas, brocados, e outros de variadas cores. Em geral, esta peça não era lavada para evitar a degradação do tecido e a perda das cores que, às vezes, levavam meses para serem fixadas.
Posterior e lentamente, houve um encurtamento e ajustamento das vestes ao corpo. Assim, a túnica das mulheres desenvolveu-se num vestido comprido e justo, já que era firmemente atado na parte superior do corpo. A evolução da túnica apresenta vários tipos:
Bliaut – vestimenta usada sobre o chemise na Europa ocidental a partir do século XI até o século XIII. O seu uso parece ter sido mais influente entre os franceses mas com aparições em obras de arte que remetem aos trajes usados por nobres durante o Império Bizantino. Apresenta ajustamento na cintura por meio do uso de faixas drapeadas (hip-belt), coletes (corsage) ou cintos (girdle) É caracterizada por possuir saias volumosas e mangas que se ampliam a partir dos cotovelos, podendo ser compridas de modo a arrastarem-se no chão.
Cotehardie – um tipo de túnica com a modelagem mais ajustada ao corpo, especialmente no torso e braços. Começou a ser usado com maior frequência em meados do século XIV.
Kirtle – consistia numa peça única, geralmente com uma abertura frontal, que permitia vestir e despir com facilidade. Era geralmente fechada por ganchos ou botões.
Houppelandeconstitui-se de um tipo de túnica composto por saias e mangas abundantemente amplas. O houppelande começou a ser usado no século XIV, popularizando-se de tal modo que persistiu em voga até o fim do século XV.
Peliçon-  tipo de super-túnica, usada por mulheres da nobreza durante o início do século XIII na Inglaterra, adornada por peles. De modo geral, possuía amplas mangas,  que alcançavam a altura abaixo dos cotovelos. A saia dessa túnica também era mais curta que o usual, deixando à mostra a roupa de baixa (chemise) No início do século XIV,  era caracterizado por não possuir mangas e ser composto por uma saia mais longa  que  chegava até os pés , acompanhada de uma longa cauda.
No fim do século XV e início do século XVI popularizou-se o Burgundian Gown  A forma mais conhecida  mostra-se  nos vestidos (gowns), possuindo de modo geral uma gola com formato em V e mangas justas, acompanhadas de um saia ampla.Genericamente, é representando com o uso de chapéus compridos e pontiagudos e o uso de uma faixa abaixo do busto ou com   o uso de véus armados.
Como sobrevestes, além dos conhecidos mantos e capas, haviam outros modelos:
Sideless gown - tipo de túnica usada por mulheres apenas e sobre outras vestes – em geral sobre o cotte ou o cottehardie – cujas laterais eram abertas até a altura dos quadris, dando a possibilidade de perceber as formas femininas com mais facilidade. A porção que cobria o torso poderia ser adornada com peles de arminho e o uso de muitos botões..
Surcote - tipo de sobreveste, geralmente de material rico, usado pela nobreza de ambos os sexos. Para as mulheres, poderia ou não ter mangas e tinha o comprimento do cotte. Foi amplamente utilizado durante o século XII.
A mulher medieval apreciava os cabelos longos, usados quase sempre divididos ao meio e trançados. As mantas e os véus são usados com frequencia sobre a cabeça enfeitada com pérolas ou colares. Algumas mulheres escondiam  o cabelo usando a Coifa -  tipo de adorno  usado por homens e mulheres, em geral de classes mais pobres. Ajuda a proteger do frio. O seu formato é rente à cabeça e é preso logo abaixo do queixo, através de um pequeno cordão.
Para o mesmo efeito era também utilizado o Liripipe -  tipo de capuz que contém uma longa cauda, como resultado da elongação da ponta superior do mesmo.
Peças do vestuário medieval permanecem actuais, sendo fonte de inspiração de vários estilistas consagrados – Fábia Berseck, Casa Alexander McQueen, Les Parents – são disso virtuoso exemplo.

Henrique Monteiro.
Prof./Editor/Escritor

Até breve...
Augusta.

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